Os dois últimos versículos deste salmo causaram um grande debate entre os estudiosos. A questão que se coloca é se de fato nós nos vemos como uma ovelha sendo cuidada por um pastor ou como um viajante exausto sendo recebido por um atencioso anfitrião? Explica-se: Isto porque o Salmo 23 apresenta duas situações distintas. Na primeira parte, há um pastor que cuida de suas ovelhas. Na segunda, há um anfitrião que concede todas as honras para um viajante.
Salmo 23
Veja que, a partir do versículo 5, o salmista não está mais em uma campina ou passando por um caminho montanhoso. Ele agora está participando de um banquete. Não está certo se seus “adversários” estão próximos. Mas lá estão. Eles olham com inveja o salmista apreciando o que há de melhor para beber e comer, sendo servido por um anfitrião que certifica-se de que seu “cálice transborda”. No Israel antigo, os anfitriões costumeiramente ungiam seus convidados com óleo suavizante. Este anfitrião, cuja bondade não tem comparação, age assim. Você deve se lembrar que numa ocasião o anfitrião de Jesus não atendeu às necessidades do mestre (Lucas 7.46).
No entanto não é necessário promover transformação tão radical deste cenário, como se o salmo apresentasse situações tão distintas. Para o pastor dos dias bíblicos suas ovelhas recebiam seus cuidados, bem como um anfitrião que atende a um exausto viajante. Talvez o que tenhamos aqui é uma fotografia de um pastor agindo dessas duas formas. Nos versículos 1 a 4, ele cuida da ovelha. Nos versículos 5 e 6 ele age como um anfitrião para o viajante. Se é assim, o salmista muda seu papel no versículo 5, indo de uma ovelha que é levada para águas de descanso, para um viajante que está sendo servido até que seu cálice transborda. E o pastor ter oferecido proteção bem como lugar para comer e descansar, o viajante poderia comer em segurança mesmo que seus adversários estivessem por perto. O pastor, como anfitrião, ungia com óleo a cabeça daquele estrangeiro.
Em nossa sociedade, suspeitamos dos estranhos. Tamanha hospitalidade é muito pouco conhecida e raramente praticada. Nós sentimos que não temos tempo para cuidar das necessidades de outras pessoas. Nos dissemos que seria irresponsabilidade gastar tempo e dinheiro em alguém que nem mesmo conhecemos. “Nossa família precisa da nossa ajuda” ou qualquer coisa parecida é a nossa desculpa.